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O avanço das tecnologias por imagem no diagnóstico e tratamento do câncer de próstata

O câncer de próstata é a doença neoplásica mais comum em homens, correspondendo a cerca de 29% das incidências da doença no sexo masculino em 2020¹ no Brasil. Ainda que seja mais comum na terceira idade, pois a maioria dos casos ocorre em pacientes acima dos 65¹ anos, a investigação em casos de sintomas associados à doença é indicada para pacientes a partir dos 45 anos², pois auxilia na detecção precoce e oferece uma maior chance de sucesso no tratamento.

Os sintomas do câncer de próstata estão comumente relacionados a alterações na urina e os exames mais utilizados na sua identificação são o toque retal e dosagem do PSA (antígeno prostático específico), obtida por meio de exame de sangue. Conhecidos dentro do universo masculino como exames de rotina, a conduta preventiva gera controvérsia na comunidade médica por se tratar de uma doença potencialmente letal ao mesmo tempo que, em muitos casos, o paciente pode passar décadas sem alterações representativas. O PSA e o toque oferecem parâmetros importantes para a avaliação da próstata, ainda que não sejam as únicas opções. Nesse sentido, avanços significativos no uso de tecnologias por imagem nos últimos anos têm sido importantes para ampliar a discussão acerca das inovações a favor de diagnósticos mais precisos e melhores alternativas no caso da necessidade de um tratamento.

 “Ainda existe um tabu com relação ao exame de toque e dos efeitos que podem vir com a doença, como impotência ou incontinência urinária. Então, muitos homens acabam não buscando informações sobre as possibilidades que temos hoje no rastreio e tratamento até que tenham uma chance real de estarem doentes.”, afirma a Dra. Cristina Matushita, médica nuclear do Serviço de Medicina Nuclear do InsCer da PUC-RS e da Clínica São Marcos de Joinville. “Exames como a Ressonância Magnética e o PET/CT podem contribuir de formas muito diferentes na jornada do paciente ao passo que são complementares dependendo do estágio da doença e condições clínicas.”, complementa.

Por ser um equipamento que utiliza um campo magnético e ondas de radiofrequência para gerar imagens detalhadas e que não usa radiação ionizante em seu método, a RM tem sido muito utilizada na etapa de rastreio, aliada a outros exames. De acordo com o Dr. Diego Roman, médico radiologista do Hospital São Lucas da PUC-RS, a anatomia da próstata é avaliada por meio do protocolo PI-RADS de ressonância multiparamétrica, onde se faz pelo menos três sequências de imagens e se avalia o risco, em alto ou baixo, da imagem apresentar neoplasia. “Com isso, além de oferecer baixo risco e ser indolente ao paciente, é possível identificar alterações nos tecidos da próstata e sugerir ao urologista uma melhor abordagem, indicando a necessidade de biópsia e a localização mais precisa, por exemplo”.

No caso do PET/CT, equipamento composto pela Tomografia Computadorizada e PET (Positron Emission Tomography), a indicação é em pacientes com câncer de próstata já identificado. “É um tipo de exame que mostra o metabolismo do paciente. Por meio de radiofármacos injetados, no nosso caso o PSMA (Antígeno Específico da Membrana Prostática), que pode ser marcado tanto com gálio-68 ou com flúor-18, obtemos imagens das funções do organismo.” Explica a Dra. Cristina. O método, portanto, proporciona um melhor acompanhamento e avaliação da resposta do paciente aos tratamentos, evitando riscos de intervenção cirúrgica precipitada ou radioterapia desnecessária. Segundo ela, pacientes que já passaram por algum tipo tratamento, mas o PSA voltou a aumentar sem razão aparente, ou ainda, pacientes com câncer de próstata de alto risco com doença metastática, também são muito beneficiados pelo PET/CT PSMA, pois é possível identificar a localização de pequenas novas lesões, invisíveis a outros métodos, o que possibilita o redirecionamento do tratamento com mais precisão.

A Dra. relata a importância da tecnologia no combate ao câncer de próstata mundialmente: “O marcador PSMA com gálio-68 foi descrito em publicação científica a primeira vez em 2013, e veio ganhando notoriedade não só no Brasil, mas no mundo todo. O avanço que a Medicina Nuclear teve foi importante nesse sentido de precisão na medicina e inovação dentro da cadeia de saúde, inclusive colocando o Brasil à frente de países como os Estados Unidos.”. “É um exame que acrescenta tanto para o paciente que já está passando por tratamento, quanto para o que acabou de ser diagnosticado e precisa entender suas melhores opções de tratamento. Existem pacientes que se beneficiarão muito de uma cirurgia e outros da radioterapia, e o PET/CT PSMA trazer a possibilidade dessa individualização.” – Acrescenta o Dr. Diego.

Enquanto a RM é um exame considerado relativamente acessível e que possivelmente caminha para uma maior difusão nas etapas de screening da próstata nos próximos anos, O PET/CT PSMA não possui cobertura pelos Planos de Saúde ou Sistema Único de Saúde (SUS) ainda, sendo restrito aos pacientes particulares. A boa notícia é que recentemente a ANVISA concedeu uma autorização de excepcionalidade³ para a produção do PSMA no Brasil, possibilitando a sua comercialização em todas as regiões do país e aumentando muito o acesso fora dos grandes centros. “A aprovação da ANVISA já foi um grande passo. Espero que em um futuro próximo, consigamos não só incluí-lo no Rol da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), mas também no SUS. Para os hospitais e seguros de saúde, significa a possibilidade de economia em procedimentos desnecessários e para o paciente, não só maiores chances de cura, mas sobretudo uma melhor qualidade de vida.” – Finaliza a Dra. Cristina.

 

 

Referências

  1. Incidência estimada conforme a localização primária do tumor e sexo., INCA, Estatísticas 2020. https://www.inca.gov.br/numeros-de-cancer Acessado em Nov. 2021.
  2. Nota Oficial 2018 – Rastreamento do Câncer de Próstata. https://portaldaurologia.org.br/publico/noticias/nota-oficial-2018-rastreamento-do-cancer-de-prostata/ Sociedade Brasileira de Urologia. Acessado em Nov. 2021.
  3. Primeiro radiofármaco regularizado via notificação https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2021/anvisa-informa-primeiro-radiofarmaco-regularizado-via-notificacao. Portal ANVISA. Acessado em Nov. 2021.